16 de jun de 2021
Faz alguns dias que li o artigo de Byung-Chul Han, um professor de filosofia na Alemanha. Ele fala de outra pandemia que não a Covid 19, a da cultura capitalista, afirmando que existe um “vírus do cansaço incessante”, que tem levado a humanidade a projetar o desejo de felicidade e satisfação em conexão direta com as imagens de sucesso realizador; o esforço que vai rompendo os limites do ser e leva as pessoas a um profundo esgotamento depressivo. Ele faz um paralelo com o vírus da Covid 19 que promove no corpo o mau funcionamento dos pulmões e da circulação, levando a um esgotamento físico.
Os pacientes acometidos descrevem que até para ir ao banheiro ou realizar tarefas simples necessitam de enorme esforço, pois se sentem sem energia, sem fôlego. Concordo com o professor de filosofia nessa tese de que nossa sociedade está adoecida e o resultado é o aumento pandêmico do hiper esforço e do cansaço, uma sensação social de descontentamento, um crescimento das expectativas individuais e ansiedades, e, também dos casos generalizados de depressão e suicídio. Acrescentaria que o fenômeno das redes sociais e a comunicação digital, aliados à superestimulação do cérebro pelas telas azuis, aumentam a velocidade desses processos mentais de projeção de fake imagens e fake felicidades.
Os crentes, ao longo da história, têm enfrentado as doenças sociais também através de uma vida inspirada pela prática espiritual e comunitária do sábado, dos jejuns e orações, a confissão, a vida simples, a amizade, o silêncio e a leitura contemplativa dos textos sagrados, além da música e do partir do pão, a fé. Um grande desafio é aprender a andar junto do que nos ensina o ritmo do Espírito de Cristo e não da correria do espírito de nossa sociedade.
Existe outro cansaço geral que vem dos últimos anos de decepção com a vida no Brasil, as crises de violência, de economia, de meio ambiente, de políticas e etc. Tanto esforço para viver, enquanto as telinhas da sociedade nos mostram imagens belas e distantes de nossa realidade, ou então, a agressividade das notícias cruas e sangrentas, nas próprias casas as relações se desfazendo, e, a este cansaço, se soma o ano e meio de isolamento, medo, e luta contra a Covid 19 e suas consequentes tristezas, fomes e mortes.
Como não lamentar? Como não chorar com os que choram? O cansaço como mecanismo saudável faz com que cada ser humano possa parar as atividades, distanciar-se das repetições e preocupações da vida, e, ainda que muitas vezes, num processo doloroso de perceber que fomos além de nossas forças e atropelamos todos os ritmos, podemos finalmente, cansados, refletir sobre as limitações do corpo e da alma e então valorizar o tempo de não cansaço e a bondade e beleza da criação realizada ao redor.
Acredito que, se estamos nos sentindo cansados e esgotados, o alarme está funcionando e o nosso corpo e alma estão “gritando” pela necessidade de encontrar descanso e apreciação, de descobrir melhor quem somos, onde estamos e para onde vamos, em que ritmo vamos e com quem vamos; precisamos do lugar de descanso onde encontramos amor e aconchego, como os pintinhos debaixo das asas de uma galinha se aninham em segurança, como uma criança que termina de mamar e dorme nos braços de sua mãe. Existe, porém, o risco de apenas promover uma pausa no ritmo, em vez de mudanças e, assim, ao longo do tempo, o cansaço vai se tornando desânimo e podemos entrar no processo de tirar o fôlego da nossa alma.
Devemos então mudar para nos tornar como crianças e exercitar o simples descanso, usufruir calmamente de um copo de água, aproveitar o sorriso de alguém e um ritmo sem pressa, frutos da graça de Deus para conosco, o verde das árvores, as cores, as flores, os sabores, o corpo, os pais, as mães, os irmãos, os filhos, os tios e avós e tudo mais que veio de graça e é maravilhoso. Assim como as crianças aprendem das relações, nós deveríamos também aprender o ritmo da vida nos conectando a relações profundas com o nosso Criador e com outros seres humanos, fazendo assim as pazes entre o ritmo do cansaço e do descanso e conectando as nossas realizações ao afeto das nossas relações.
Sobre o autor – Daniel Abe, pastor da Igreja Metodista Livre, procura servir a Deus e à Igreja nos cargos a que é comissionado. Filho de Kazuo e Carmen, irmão de Marcos e Davi, marido de Patrícia e pai de Ana, Pedro e Davizinho. Amigo de muitos irmãos e irmãs.
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Muito obrigada Daniel por compartilhar esse artigo, uma reflexão da vida nesse contexto tão estressante. A difícil arte do equilíbrio. Com o amor de Deus estou caminhando olhando p cruz de Cristo, as vezes de pé, as vezes de joelhos e sempre na esperança deixa por Ele. Grande abraço.