Paulo, o terrorista Talibã

07 de set de 2021

Carlos Nomoto

São chocantes as imagens, a cada semana, registradas no Afeganistão. Não é possível passar os olhos e não se sensibilizar. Pessoas caindo de aviões, mulheres sendo agredidas. Imaginamos nossas mães, esposas e filhas passando por aquilo.

Durante esta semana, conversei com uma das pessoas com quem estudo a Bíblia. Ela estava com o coração pesado por conta do momento atual da humanidade, e o Talibã só piorou sua angústia. Entram neste contexto o nosso Brasil e tudo o que estamos vendo por aqui.

Tivemos uma grata surpresa ao longo da conversa: Jesus Cristo pode transformar o coração de um terrorista. E ele já fez isso com alguns deles, dentre os quais Paulo, o apóstolo. Antes de ter seu coração transformado, Paulo equiparava-se a um terrorista do Talibã – religioso radical extremista de um grupo chamado de fariseus, ele aparece como tal pela primeira vez no livro de Atos. Paulo:

  • Cria que somente o seu Deus – que era o Deus do povo judeu – era o Deus verdadeiro;
  • Seguiu à risca todos os rituais prescritos no Antigo Testamento;
  • Acreditava que o mundo deveria ser governando pelas leis, preceitos e mandamentos descritos nos Livros Sagrados;
  • Aguardava o dia em que o reinado do seu Deus seria implementado de forma absoluta neste mundo. Esse plano divino, tal como ele compreendia, misturava aspectos étnicos, religiosos e políticos.

E Paulo decidiu ser parte ativa nesse processo. Desde sua juventude, engajou-se na “guerra santa” a ponto de assassinar qualquer infiel que fizesse oposição a esse plano do seu Deus. Estevão, considerado o primeiro mártir cristão, foi assassinado aos seus pés, sob suas ordens.

Nessa descrição, você encontra alguma semelhança de Paulo com os movimentos político-religiosos extremistas da atualidade?

A história continua até que um dia, de repente, a caminho de Damasco (Síria), esse terrorista chamado Paulo foi tomado por uma visão que o deixou cego durante dias. Por meio de algum recurso cognitivo que desconhecemos, Paulo reconhece Jesus Cristo dizendo: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. (Saulo mudou seu nome para Paulo, mas essa é uma outra história, muito linda por sinal.)

Após esse episódio, Paulo sai de cena por cerca de 3 anos, e em seguida retorna aos mesmos lugares por onde passou assassinando “infiéis”, só que agora fortalecendo sua nova família em Jesus Cristo.

O perseguidor de Jesus Cristo havia se tornado seu servo. Paradoxalmente, ao final da vida, esse assassino de cristãos foi assassinado pelo Império Romano exatamente por ter se tornado um servo de quem ele próprio perseguia.

O que aconteceu com Paulo é a única solução capaz de reverter um vetor de ódio e violência: a transformação do coração, fonte de todos os nossos desejos, por Cristo Jesus.

Imperadores romanos entenderam isso rapidamente, tanto que cristãos tinham seus corações arrancados de seus corpos pelos imperadores, pois eles queriam entender o que havia de diferente neles. O que os levava a sacrificar suas vidas por amor a esse Jesus Cristo?

Só existe uma solução para a violência da humanidade: deixar que Cristo transforme o seu coração. O mundo está assim porque a fonte dos desejos da humanidade está assim.

  • Governos são ineficientes.
  • Sistemas econômicos, injustos.
  • A religião oprime.
  • As redes sociais confundem.

Esses sistemas são assim porque os desejos daqueles que os moldaram – e daqueles que os apoiam – são assim.

O que precisa ser transformado não é a democracia, a ditadura, o capitalismo, o socialismo moderno, os valores do Ocidente ou do Oriente. O que precisa ser transformado é o coração dos estadistas, dos governantes e dos seus eleitores. Porque é do coração que partem todos os desejos. E são eles que moldam o mundo em que vivemos.

São o meu e o seu coração que precisam ser transformados. É a fonte dos nossos desejos que precisa passar a amar Jesus Cristo acima de todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos.

Jesus Cristo já transformou o coração de um terrorista: Paulo, que se tornou o maior de todos os apóstolos, levando a mensagem que revolucionou sua vida para a região da Palestina, por todo norte do Mar Mediterrâneo, chegando até Roma, onde sua carreira foi brutalmente encerrada.

Eu aguardo o dia em que receberei a notícia de que um líder Talibã teve um encontro com Jesus Cristo, semelhante ao que teve Paulo. Não há outra força capaz de mudar a direção desse vetor de ódio e violência. E isso inclui também os estadistas do Ocidente e Oriente.

Nós, discípulos e discípulas de Jesus Cristo, portadores de uma fé que foi e continua sendo preservada pelo sangue dos mártires, temos atravessado corajosamente este mundo desorientado por sistemas injustos e ineficientes de forma discreta. Não estamos confusos, tampouco iludidos! Conhecemos a causa e a solução para o coração humano. E temos uma certeza que conforta e encoraja: é possível um terrorista ser transformado pelo poder de Jesus Cristo. O nome disso é fé. “A fé mostra a realidade daquilo que esperamos; ela nos dá convicção de coisas que não vemos. Pela fé, pessoas em tempos passados obtiveram aprovação” (Hebreus 11.1-2 NTV).

Eu e a pessoa com quem eu estudo a Bíblia mencionada anteriormente oramos juntos ao final da conversa. Foi emocionante. Oramos pelo Talibã, pedimos que Jesus transforme o coração dos seus líderes. Sabemos quem somos e, principalmente, em quem cremos. Por isso, seguimos apreensivos, mas confiantes, engajando-nos na missão de Deus.

Fonte: https://www.martureo.com.br/

Sobre o autor –   Carlos Nomoto atua na área de Desenvolvimento Sustentável há 17 anos. Desenvolveu e implementou projetos de larga escala no mercado financeiro, agronegócios, florestas e saúde pública. Em caráter voluntário, liderou organizações missionárias globais com presença em países pobres e com alto nível de perseguição aos cristãos. É professor da FGV – Fundação Getúlio Vargas, com MBA pelo Insper e especializações em Sustentabilidade pela Harvard Business School e University of Cambridge.

Artigo: Pandemia do Cansaço

16 de jun de 2021

Daniel Abe

Faz alguns dias que li o artigo de Byung-Chul Han, um professor de filosofia na Alemanha. Ele fala de outra pandemia que não a Covid 19, a da cultura capitalista, afirmando que existe um “vírus do cansaço incessante”, que tem levado a humanidade a projetar o desejo de felicidade e satisfação em conexão direta com as imagens de sucesso realizador; o esforço que vai rompendo os limites do ser e leva as pessoas a um profundo esgotamento depressivo. Ele faz um paralelo com o vírus da Covid 19 que promove no corpo o mau funcionamento dos pulmões e da circulação, levando a um esgotamento físico.

Os pacientes acometidos descrevem que até para ir ao banheiro ou realizar tarefas simples necessitam de enorme esforço, pois se sentem sem energia, sem fôlego. Concordo com o professor de filosofia nessa tese de que nossa sociedade está adoecida e o resultado é o aumento pandêmico do hiper esforço e do cansaço, uma sensação social de descontentamento, um crescimento das expectativas individuais e ansiedades, e, também dos casos generalizados de depressão e suicídio. Acrescentaria que o fenômeno das redes sociais e a comunicação digital, aliados à superestimulação do cérebro pelas telas azuis, aumentam a velocidade desses processos mentais de projeção de fake imagens e fake felicidades.

Os crentes, ao longo da história, têm enfrentado as doenças sociais também através de uma vida inspirada pela prática espiritual e comunitária do sábado, dos jejuns e orações, a confissão, a vida simples, a amizade, o silêncio e a leitura contemplativa dos textos sagrados, além da música e do partir do pão, a fé. Um grande desafio é aprender a andar junto do que nos ensina o ritmo do Espírito de Cristo e não da correria do espírito de nossa sociedade.
Existe outro cansaço geral que vem dos últimos anos de decepção com a vida no Brasil, as crises de violência, de economia, de meio ambiente, de políticas e etc. Tanto esforço para viver, enquanto as telinhas da sociedade nos mostram imagens belas e distantes de nossa realidade, ou então, a agressividade das notícias cruas e sangrentas, nas próprias casas as relações se desfazendo, e, a este cansaço, se soma o ano e meio de isolamento, medo, e luta contra a Covid 19 e suas consequentes tristezas, fomes e mortes.

Como não lamentar? Como não chorar com os que choram? O cansaço como mecanismo saudável faz com que cada ser humano possa parar as atividades, distanciar-se das repetições e preocupações da vida, e, ainda que muitas vezes, num processo doloroso de perceber que fomos além de nossas forças e atropelamos todos os ritmos, podemos finalmente, cansados, refletir sobre as limitações do corpo e da alma e então valorizar o tempo de não cansaço e a bondade e beleza da criação realizada ao redor.
Acredito que, se estamos nos sentindo cansados e esgotados, o alarme está funcionando e o nosso corpo e alma estão “gritando” pela necessidade de encontrar descanso e apreciação, de descobrir melhor quem somos, onde estamos e para onde vamos, em que ritmo vamos e com quem vamos; precisamos do lugar de descanso onde encontramos amor e aconchego, como os pintinhos debaixo das asas de uma galinha se aninham em segurança, como uma criança que termina de mamar e dorme nos braços de sua mãe. Existe, porém, o risco de apenas promover uma pausa no ritmo, em vez de mudanças e, assim, ao longo do tempo, o cansaço vai se tornando desânimo e podemos entrar no processo de tirar o fôlego da nossa alma.

Devemos então mudar para nos tornar como crianças e exercitar o simples descanso, usufruir calmamente de um copo de água, aproveitar o sorriso de alguém e um ritmo sem pressa, frutos da graça de Deus para conosco, o verde das árvores, as cores, as flores, os sabores, o corpo, os pais, as mães, os irmãos, os filhos, os tios e avós e tudo mais que veio de graça e é maravilhoso. Assim como as crianças aprendem das relações, nós deveríamos também aprender o ritmo da vida nos conectando a relações profundas com o nosso Criador e com outros seres humanos, fazendo assim as pazes entre o ritmo do cansaço e do descanso e conectando as nossas realizações ao afeto das nossas relações.

“Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti”. Agostinho de Hipona.

Sobre o autor – Daniel Abe, pastor da Igreja Metodista Livre, procura servir a Deus e à Igreja nos cargos a que é comissionado. Filho de Kazuo e Carmen, irmão de Marcos e Davi, marido de Patrícia e pai de Ana, Pedro e Davizinho. Amigo de muitos irmãos e irmãs.

Artigo: Tamo na área !

27 de mar de 2021

Marcos Abe

Mais de 79 milhões de pessoas forçadas a abandonar o lar, sem perspectiva de retornar.  Segundo a ACNUR – órgão das Nações Unidas para refugiados -, esta é uma das mais graves crises  humanitárias da nossa história. O maior êxodo humano já visto em todos os tempos.

Tô nem aí. Não é problema meu, poderíamos pensar.

Bastet *, cineasta egípcia,  buscou recentemente refúgio no Brasil.

Bastet cometeu a ofensa de se converter ao cristianismo. No Egito, que aplica a Lei Sharia com uma interpretação literal e reducionista, quando uma cristã e um muçulmano se casam, os filhos são considerados apátridas. Párias da sociedade. Se a mãe não abandona sua fé, a criança não pode ser registrada, pois na certidão de nascimento deve constar a religião da criança. Como Bastet e seu marido têm religiões diferentes, pela lei local a criança fica sem nenhuma e não tem direito de existir enquanto cidadã, titular de direitos.

Na prática, essa criança não pode se matricular na escola, não tem acesso à saúde pública, não tem direito a passaporte ou documento de identidade, não tem certidão de nascimento e não poderá no futuro sequer votar. Ela não existe para o Estado.

Graças a Deus Bastet e seu marido conseguiram refúgio no Brasil e a criança pôde nascer com direito a existir.

Yussuf**, neste exato momento, em março de 2.021, tenta uma alternativa de refúgio. Pensa seriamente em como conseguirá vir ao Brasil, atravessando o oceano, pois não conseguiu um visto e seu passaporte não foi renovado pelas autoridades. Ele foi espancado por radicais islâmicos por confessar a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Abandonado pela família, sem recursos e correndo risco de vida, a única alternativa de Yussuf é imigrar, legal ou ilegalmente.

Na nossa vizinha Venezuela, professores de uma escola ganham cerca de vinte e cinco reais por mês de salário. Isso mesmo. Vinte e cinco reais. Não conseguem pagar nem sequer a condução e o que recebem corresponde a um único item da cesta básica. Através das ofertas de diversos membros da nossa igreja, vários professores e crianças receberam alimentos, medicamentos e conseguirão sobreviver por mais um mês.

Milhões de venezuelanos encontram-se em situação de extrema vulnerabilidade social, sofrendo com a violência e a falta de condições mínimas de sobrevivência.   Contam-se às centenas de milhares os casos de abusos de direitos humanos, estupros, vítimas de traficantes de pessoas denominados ´coiotes´ que exploram pessoas nas áreas de fronteiras, espancamentos, seres humanos jogados na rua e morando em rodoviárias ou em barracas. Para os venezuelanos pretos, pobres, índios warao ou mulheres grávidas, a situação é ainda pior.

Tô nem aí, poderíamos pensar. Eu não sou egípcio, não sou venezuelano.

Tô nem aí, poderíamos pensar. As necessidades e problemas no Brasil já são enormes e é melhor ajudar quem mora e vive aqui em lugar do estrangeiro refugiado.

Tô nem aí, poderíamos pensar. Nas horas em que eu precisei de ajuda, ninguém me ajudou. Por que eu ajudaria alguém que nem sequer conheço ?

Talvez você até se comova com as histórias. Mas são apenas mais algumas em um Mundo injusto.

Escrevo este artigo para você que quer ir além do incômodo, da empatia momentânea e quer fazer alguma diferença.

Deus tem para você um chamado histórico, uma oportunidade única para ajudar a mudar e transformar essa narrativa. É a oportunidade de honrar a Cristo através do amor.

E esta honra é ao próprio Cristo, um refugiado. Correndo risco de vida, Jesus foi obrigado a refugiar-se no Egito logo depois de seu nascimento. Jesus foi acolhido por José, que não era seu pai biológico. Ainda assim, José amou Jesus, fugiu com Maria para o Egito para proteger aquele bebê indefeso.

É este Jesus a quem servimos. Jesus refugiado, estrangeiro, pobre, indefeso. Jesus vitorioso. Jesus que enfrentou todas as nossas dores, que conhece o que é sofrer e que ainda assim em lugar de pensar em si mesmo decidiu sacrificar-se por nós.

Um dia, Jesus virá para um bate-papo com a gente.

Será a conversa de Mateus 25:35 a 40.

Ele dirá:

– Tive fome, e vocês me deram comida. Tive sede, e vocês me deram de beber. Precisei de roupas, e vocês me deram o que vestir. Estive doente, e vocês cuidaram de mim. Estive preso, e vocês me visitaram.

Então responderemos:

 – Senhor, quando vimos você com fome e te demos de comer, e com sede e te demos de beber ? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos?  Quanto te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?

O Rei Jesus responderá:

– Digo a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram.

É tempo de entender que somos parte da solução. Que o Planeta chora, e que o choro de nosso irmão, perto ou longe, deve ser o nosso também.

E quando vier a alegria, e ela virá, a felicidade e o júbilo do nosso irmão, perto ou longe, será a nossa também.

Venha participar desta festa. Venha amar com a gente.

Estamos aí. Estamos aqui na área e precisamos de você fazendo a diferença.

COMO AJUDAR:
Acesse: www.aire.org.br ou entre em contato com nossa assistente social, Alda Matias, pelo telefone (11) 98871-8510

Sobre o autor – Marcos Abe, membro da Igreja Metodista Livre de Diadema, membro do conselho mundial de  Open Doors International e diretor da AIRE – Acolhimento e Integração ao Refugiado, entidade parceira da Igreja Metodista Livre de Diadema.
*, ** – histórias verídicas, com nomes alterados e dados trocados para preservação da identidade dos refugiados.

design by tonbow studio | code by leonor designer