Artigo: Tamo na área !

27 de mar de 2021

Marcos Abe

Mais de 79 milhões de pessoas forçadas a abandonar o lar, sem perspectiva de retornar.  Segundo a ACNUR – órgão das Nações Unidas para refugiados -, esta é uma das mais graves crises  humanitárias da nossa história. O maior êxodo humano já visto em todos os tempos.

Tô nem aí. Não é problema meu, poderíamos pensar.

Bastet *, cineasta egípcia,  buscou recentemente refúgio no Brasil.

Bastet cometeu a ofensa de se converter ao cristianismo. No Egito, que aplica a Lei Sharia com uma interpretação literal e reducionista, quando uma cristã e um muçulmano se casam, os filhos são considerados apátridas. Párias da sociedade. Se a mãe não abandona sua fé, a criança não pode ser registrada, pois na certidão de nascimento deve constar a religião da criança. Como Bastet e seu marido têm religiões diferentes, pela lei local a criança fica sem nenhuma e não tem direito de existir enquanto cidadã, titular de direitos.

Na prática, essa criança não pode se matricular na escola, não tem acesso à saúde pública, não tem direito a passaporte ou documento de identidade, não tem certidão de nascimento e não poderá no futuro sequer votar. Ela não existe para o Estado.

Graças a Deus Bastet e seu marido conseguiram refúgio no Brasil e a criança pôde nascer com direito a existir.

Yussuf**, neste exato momento, em março de 2.021, tenta uma alternativa de refúgio. Pensa seriamente em como conseguirá vir ao Brasil, atravessando o oceano, pois não conseguiu um visto e seu passaporte não foi renovado pelas autoridades. Ele foi espancado por radicais islâmicos por confessar a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Abandonado pela família, sem recursos e correndo risco de vida, a única alternativa de Yussuf é imigrar, legal ou ilegalmente.

Na nossa vizinha Venezuela, professores de uma escola ganham cerca de vinte e cinco reais por mês de salário. Isso mesmo. Vinte e cinco reais. Não conseguem pagar nem sequer a condução e o que recebem corresponde a um único item da cesta básica. Através das ofertas de diversos membros da nossa igreja, vários professores e crianças receberam alimentos, medicamentos e conseguirão sobreviver por mais um mês.

Milhões de venezuelanos encontram-se em situação de extrema vulnerabilidade social, sofrendo com a violência e a falta de condições mínimas de sobrevivência.   Contam-se às centenas de milhares os casos de abusos de direitos humanos, estupros, vítimas de traficantes de pessoas denominados ´coiotes´ que exploram pessoas nas áreas de fronteiras, espancamentos, seres humanos jogados na rua e morando em rodoviárias ou em barracas. Para os venezuelanos pretos, pobres, índios warao ou mulheres grávidas, a situação é ainda pior.

Tô nem aí, poderíamos pensar. Eu não sou egípcio, não sou venezuelano.

Tô nem aí, poderíamos pensar. As necessidades e problemas no Brasil já são enormes e é melhor ajudar quem mora e vive aqui em lugar do estrangeiro refugiado.

Tô nem aí, poderíamos pensar. Nas horas em que eu precisei de ajuda, ninguém me ajudou. Por que eu ajudaria alguém que nem sequer conheço ?

Talvez você até se comova com as histórias. Mas são apenas mais algumas em um Mundo injusto.

Escrevo este artigo para você que quer ir além do incômodo, da empatia momentânea e quer fazer alguma diferença.

Deus tem para você um chamado histórico, uma oportunidade única para ajudar a mudar e transformar essa narrativa. É a oportunidade de honrar a Cristo através do amor.

E esta honra é ao próprio Cristo, um refugiado. Correndo risco de vida, Jesus foi obrigado a refugiar-se no Egito logo depois de seu nascimento. Jesus foi acolhido por José, que não era seu pai biológico. Ainda assim, José amou Jesus, fugiu com Maria para o Egito para proteger aquele bebê indefeso.

É este Jesus a quem servimos. Jesus refugiado, estrangeiro, pobre, indefeso. Jesus vitorioso. Jesus que enfrentou todas as nossas dores, que conhece o que é sofrer e que ainda assim em lugar de pensar em si mesmo decidiu sacrificar-se por nós.

Um dia, Jesus virá para um bate-papo com a gente.

Será a conversa de Mateus 25:35 a 40.

Ele dirá:

– Tive fome, e vocês me deram comida. Tive sede, e vocês me deram de beber. Precisei de roupas, e vocês me deram o que vestir. Estive doente, e vocês cuidaram de mim. Estive preso, e vocês me visitaram.

Então responderemos:

 – Senhor, quando vimos você com fome e te demos de comer, e com sede e te demos de beber ? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos?  Quanto te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?

O Rei Jesus responderá:

– Digo a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram.

É tempo de entender que somos parte da solução. Que o Planeta chora, e que o choro de nosso irmão, perto ou longe, deve ser o nosso também.

E quando vier a alegria, e ela virá, a felicidade e o júbilo do nosso irmão, perto ou longe, será a nossa também.

Venha participar desta festa. Venha amar com a gente.

Estamos aí. Estamos aqui na área e precisamos de você fazendo a diferença.

COMO AJUDAR:
Acesse: www.aire.org.br ou entre em contato com nossa assistente social, Alda Matias, pelo telefone (11) 98871-8510

Sobre o autor – Marcos Abe, membro da Igreja Metodista Livre de Diadema, membro do conselho mundial de  Open Doors International e diretor da AIRE – Acolhimento e Integração ao Refugiado, entidade parceira da Igreja Metodista Livre de Diadema.
*, ** – histórias verídicas, com nomes alterados e dados trocados para preservação da identidade dos refugiados.

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